terça-feira, 26 de novembro de 2013

CAS(U)AL


Cas(u)al

    Lílian Maial





ele me sorri
me alisa e me prova
me consome
depois some
e não dá notícia
eu me consumo
me confundo
telefono e não durmo
ele nem liga


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quinta-feira, 21 de novembro de 2013

CAOS

 
 
 
CAOS
Lílian Maial
 
 
 
 
 
 
E ainda há todas essas asas se debatendo dentro de mim
 
E tantos leões famintos no meu peito
 
Não, amor, não se espante com essa baderna interna
 
É que não deu tempo de organizar as coisas
 
Você chegou de repente
 
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domingo, 17 de novembro de 2013

OFERTÓRIO

OFERTÓRIO
Lílian Maial





Dou-te minha inocência e devassidão,
Para que te cubras de perdão,
Para que tuas manhãs sejam de linho
E tuas noites recendam a leveza.
Que tenhas paz.

Entrego-te meus olhos,
Para que enxergues, em ti,
O homem que vejo.
Cuida bem dos meus luares
E não te esqueças de estendê-los,
Quando a noite vier dar no mar.

Mergulha em mim,
Aceita o meu sorriso!
É o que basta.

E beberei teu brilho tímido
Em goles de calma e caminho.

Adiante mais um pôr de sol.


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segunda-feira, 11 de novembro de 2013

DESDE AQUELE DIA







Tanto sol e tanto vento,
E minhas mãos não sabiam o que fazer, onde se esconder.
Meus olhos farejavam teus poros, cada traço, cada pelo.
O momento parou ali, na tua boca.
Queria provar tua sina.

Tua nuca me chamando. Eu quase fui. Temi. Tremi. Devia ter ido.
Inútil essa coisa de se fingir que não se quer. Deixar passar o momento.
O tempo se esvai - aquela ampulheta sem escrúpulos - e nos leva a chance.
Ah! Eu te queria desde aquele dia!

Quase me atrapalhei quando teus braços me envolveram tímidos, 
avançaram cautelosos e me devolveram castos.
Queria profanar teu corpo todo, tua retina, teus cromossomas.
Bebi avidamente tua voz e te esperei nas paredes, nas gotas d’água, nos lençóis.
Viajei contigo para muito além das estradas.
Vivi teus minutos sorvendo os estranhos movimentos dos teus lábios, os desvios dos teus olhos. 
Esses que me procuravam e fingiam não me encontrar.
Eu te queria desde aquele dia!

Tantas palavras e nenhuma palavra.
Não consegui te decifrar.
Meu corpo nu aprendendo a aguardar e a febre crescendo na sala de espera.
Mesa posta, eu já descomposta, sem resposta.
Suada de te antecipar os passos.
Não havia pegadas e a chama das velas ainda ardia.
Ah! Eu te queria! Sim, te queria desde aquele dia.

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terça-feira, 5 de novembro de 2013

POEMA

POEMA
Lilian Maial





É isso o que somos um para o outro:

impossíveis, imprevisíveis, arrebatadores,
surpreendentes, instigantes, misteriosos,

irritantes, descartáveis e fundamentais.

Nem o (a)mar consegue nos conter.

Somos dicotomia elementar.
Coisa básica, coisa quântica, exemplo do inexplicável.

Quero a palavra que nos nomeia.

Simples assim: quero.

Sei o que sentes, mas não direi,

a palavra vem adquirindo vontade própria,

evito contato mais íntimo com ela.

Sou pagã, herege, profana,
absolutamente ateia,

mas sei mais de deus que ele de si ou dos homens.
Sei mais de amor, que os amantes shakespeareanos.
Sei mais de ti, que tua mãe, teu pai e teu ego.

E nada sei.

Não te quero confortável.

Quero beber tua agonia, tua dor e tua poesia.
Quero teu suor, tua espera e teu sangue.


 
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quinta-feira, 22 de agosto de 2013

LÍNGUA PORTUGUESA

LÍNGUA PORTUGUESA
®Lílian Maial





Tudo começou quando lhe disseram que a língua não cabia dentro da boca, que era uma língua de trapo. Aquilo virou obsessão, entre o fascínio e a vergonha. Tinha uma língua enorme, que batia no queixo. Fazia caretas inimagináveis, fazia música com a língua, provocava. Nas festinhas, exultava se ganhasse uma língua de sogra. Ainda criança, gostava de brincar de falar a língua do “pê”.

Um dia começou a lamber e não parou mais. Lambia os beiços, lambia a borda do prato, a borda dos copos, lambia os lábios. Era mestre em lamber. E adorava língua de gato! Desde que começou a lamber a pele, nunca mais teve sossego. Havia filas de tudo que é tipo de gente. Todos queriam ver a língua, sentir a língua, beijá-la. Depois que casou, passava horas lambendo a cria.

Resolveu estudar línguas. Fez inglês, francês, espanhol, alemão e italiano. Era muito simples, dominava a língua como ninguém. Ocupava alto posto na diplomacia, graças à lábia e às línguas.

Tudo ia bem, até que passou a não falar a mesma língua. As más línguas mandaram que dobrasse a língua, mas não era de seu feitio engolir a língua. Tinha tudo sempre na ponta da língua. Deu com a língua nos dentes. Morreu com a língua de fora.


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sábado, 10 de agosto de 2013

COMO EU





COMO EU 
lílian maial



Meus sonhos mudos 
não têm mais vozes 
silentes goles 
de devaneios 
carícias plenas 

gotas serenas 

correm na pele 
pelos meus seios.


Minha nudez? 
Ela é só minha
se não me enxergas 
pelas entranhas. 
Dona das manhas 
onça pintada
solta no mato 
boi de piranha.


Não queiras mágoa
a mim de estátua 
que na verdade
eu sou bem sonsa. 
Eu não sou santa 
e nem sou tola 
ou tua rola
apenas onça.


Cresci sabida, 
sem lei, nem guia 
nasci vadia
pra aproveitar. 
Sou hedonista
sou alpinista
herdeira artista 
do teu cantar.


Já fui cometa
arrastei lágrima 
na cauda inválida
já fui estrela. 
De parco brilho
saí dos trilhos
fui vaga-lume 
de outro planeta.


Hoje sou eu 
que não sou nada
menos que nada
eu sou talvez. 
E em minha saga 
apaixonada 
sou verme e praga
insensatez.


Sou céu e terra
sou mar e areia
aranha e teia
cobra coral. 
Se queres muito 
que eu seja tua
me prova crua 
sem mel, nem sal.

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