quarta-feira, 26 de setembro de 2012

MADRUGADA



MADRUGADA

lílian maial




Do tudo que me vem em agonia,

resta um traço de lápis preto borrado

e um cheiro ácido no hálito de solidão.



No breu da sede de carne,

a mesma boca seca a soletrar desculpas.



Por trás do sorriso não rasgado,

o mesmo gosto de tapete e corrimão.



De nada adianta o consolo do abraço

e o remendo das palavras vãs,

se ambos sabemos

que somos sementes da insônia.



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terça-feira, 18 de setembro de 2012

SONETO DO AMOR IMENSURÁVEL

®Lílian Maial







O meu amor é tanto e sem medida!

...É fé, é sentimento, é dor e é riso.

É pérola na ostra, um sol narciso,

Brilhante e ensimesmado suicida.



O teu amor não quis me dar guarida.

Esquece que a paixão não manda aviso,

Que os olhos não têm pressa e nem juízo,

E o coração não sabe a despedida.



As linhas que se perdem no meu rosto,

São marcas de alegria e de desgosto,

Que o tempo se encarrega de fincar.



Não há régua no mundo que, hoje, meça,

Nem bom conselho a esta altura impeça,

Que o meu amor não pare de te amar.





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segunda-feira, 30 de abril de 2012

PANIS et CIRCENSES





Há dias de apascentar os olhos no levedar das horas,
pelo circo das janelas de molduras reluzentes,
disfarce oportuno, distração de tontos.


As vértebras exibindo sinuosas torturas nas bordas do silêncio,
ensurdecido pela blasfêmia do escárnio obsceno das telas brilhantes.

Não se olvide, porém, a índole do porvir!
A mão que acusa o estro subserviente
é a que se apega à lâmina da sedição.


A paixão estuando o músculo,
num crepúsculo de dignidade.

No tempo em que o homem ciceroneia o homem,
mitigados ditames de solidão,


a verdade salta diante do torso corcoveado
de intenções servis.

Há muitos perigos no vazio doloroso da fome
entalhada a fogo.

Nenhum homem há de subjugar um irmão!
Nenhuma horda a comandar o verbo!


Na aceria latente da palavra,
a rima do pão é a mão estendida
e sua métrica as vozes plurais a saciar a fome.



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