sábado, 24 de agosto de 2013
quinta-feira, 22 de agosto de 2013
LÍNGUA PORTUGUESA
LÍNGUA PORTUGUESA
®Lílian Maial
Tudo começou quando lhe disseram
que a língua não cabia dentro da boca, que era uma língua de trapo. Aquilo
virou obsessão, entre o fascínio e a vergonha. Tinha uma língua enorme, que
batia no queixo. Fazia caretas inimagináveis, fazia música com a língua,
provocava. Nas festinhas, exultava se ganhasse uma língua de sogra. Ainda
criança, gostava de brincar de falar a língua do “pê”.
Um dia começou a lamber e não
parou mais. Lambia os beiços, lambia a borda do prato, a borda dos copos,
lambia os lábios. Era mestre em lamber. E adorava língua de gato! Desde que
começou a lamber a pele, nunca mais teve sossego. Havia filas de tudo que é
tipo de gente. Todos queriam ver a língua, sentir a língua, beijá-la. Depois
que casou, passava horas lambendo a cria.
Resolveu estudar línguas. Fez
inglês, francês, espanhol, alemão e italiano. Era muito simples, dominava a
língua como ninguém. Ocupava alto posto na diplomacia, graças à lábia e às
línguas.
Tudo ia bem, até que passou a não
falar a mesma língua. As más línguas mandaram que dobrasse a língua, mas não era
de seu feitio engolir a língua. Tinha tudo sempre na ponta da língua. Deu com a
língua nos dentes. Morreu com a língua de fora.
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domingo, 11 de agosto de 2013
sábado, 10 de agosto de 2013
COMO EU
COMO EU
lílian maial
Meus sonhos mudos
não têm mais vozes
silentes goles
de devaneios
carícias plenas
gotas serenas
correm na pele
pelos meus seios.
Minha nudez?
Ela é só minha
se não me enxergas
pelas entranhas.
Dona das manhas
onça pintada
solta no mato
boi de piranha.
Não queiras mágoa
a mim de estátua
que na verdade
eu sou bem sonsa.
Eu não sou santa
e nem sou tola
ou tua rola
apenas onça.
Cresci sabida,
sem lei, nem guia
nasci vadia
pra aproveitar.
Sou hedonista
sou alpinista
herdeira artista
do teu cantar.
Já fui cometa
arrastei lágrima
na cauda inválida
já fui estrela.
De parco brilho
saí dos trilhos
fui vaga-lume
de outro planeta.
Hoje sou eu
que não sou nada
menos que nada
eu sou talvez.
E em minha saga
apaixonada
sou verme e praga
insensatez.
Sou céu e terra
sou mar e areia
aranha e teia
cobra coral.
Se queres muito
que eu seja tua
me prova crua
sem mel, nem sal.
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