Lílian Maial
Blog de poesia
terça-feira, 20 de maio de 2014
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sábado, 10 de maio de 2014
INTERGALÁTICA
INTERGALÁTICA
Lílian Maial
Ave Mulher, mãe de tantos sonhos!
Criatura imaculada,
mesmo em pecados medonhos,
santa imagem do passar dos anos,
sonsa amante dos lençóis riscados
com os gozos dos seus desenganos.
Ave Deusa, bem-aventurada estranha!
Habitante dos recônditos de breu e desespero,
entregue aos homens,
à insensatez, à vergonha,
ilesa em seus caprichos,
limpa em seus desvelos.
Ave Maria, da graça e da dor!
Conduz teus martírios em rotas de luz,
e pensa teus filhos,
teus frutos de amor,
além do vazio, sem sombras, sem cruz.
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domingo, 27 de abril de 2014
TATOO
TATOO
®Lílian Maial
Nada mais importa,
senão o teu cheiro de macho
e o suor que nos pega e gruda e excita.
Não há lá fora,
só aqui, entre essas paredes latejantes,
por onde flui teu desejo,
onde se desmascara meu falso pejo,
e a outra toma forma devassa.
Não, não me desperta!
Deixa esse peso por sobre minhas carnes,
essa água benta a me escorrer em brasa
e a tua mão convenientemente esquecida no meu seio.
Permite que eu seja teu veludo,
desliza a boca nas vestes que são tuas.
Nada mais importa,
senão tua pele
a me tatuar as vontades
e as entranhas.
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DE GAIOLAS & GRADES
DE GAIOLAS & GRADES
®Lílian Maial
®Lílian Maial
Descobri que depois de tanto brigar com as gaiolas, não
voei.
Asas pesadas, talvez dormentes da mesma posição, quebradas
de grades.
Ou apenas acostumadas ao cativeiro. Não sei.
A liberdade parece mais distante com as portas abertas.
Destinos mais hostis.
Destino - palavra premeditada - só se escreve tarde demais.
Costumava achar engraçado e excitante esse voo cego,
não saber de nada até que foi.
Brincava de deixar para amanhã, quando tivesse tempo.
Agora entendo a alegria
e rio muito dos planos todos de todo mundo.
Gosto de ver o amarelo da flor da varanda.
Embora livre, vive apenas presa ao galho.
Ela me passa a ideia de destino, exposta e admirada,
finita e não menos cheirosa.
Cumpre sua função, eu cumpro a minha.
Aprendi que os ídolos fazem os tolos,
E que os tolos fazem ídolos por necessidade,
por medo da morte.
Não temo, não tramo e não faço tratos.
Tudo acaba, não tenho dúvida, e não seria diferente.
Como as flores, aceito a missão,
alada, finita e perfumada.
*************
sábado, 26 de abril de 2014
PERSONA
PERSONA
Lílian Maial
Não sei bem se felicidade é estar junto
ou antecipar a chegada,
se a partida dói mais que a previsão da ausência,
se eu te quero para sempre ou somente agora.
Odeio tantas coisas em ti,
que não sei como encontrar verdade em te amar.
Talvez eu ame a ira que me inspiras,
ou a poesia que tua espera me acalanta.
Mas esse teu silêncio, sem dúvida, me agride.
Então, como as conchas, produzo uma pérola,
no lugar em que deveria pulsar uma cicatriz,
e sigo o animus, sorrindo sempre,
porque, numa dessas, desprevenida e cética,
talvez ele me chegue.
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domingo, 6 de abril de 2014
HOMEM SEM ROSTO
HOMEM SEM ROSTO
Lílian Maial
terça-feira, 26 de novembro de 2013
quinta-feira, 21 de novembro de 2013
CAOS
CAOS
Lílian Maial
E ainda há todas essas asas se debatendo dentro de mim
E tantos leões famintos no meu peito
Não, amor, não se espante com essa baderna interna
É que não deu tempo de organizar as coisas
Você chegou de repente
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domingo, 17 de novembro de 2013
OFERTÓRIO
OFERTÓRIO
Lílian Maial
Dou-te minha inocência e devassidão,
Para que te cubras de perdão,
Para que tuas manhãs sejam de linho
E tuas noites recendam a leveza.
Que tenhas paz.
Entrego-te meus olhos,
Para que enxergues, em ti,
O homem que vejo.
Cuida bem dos meus luares
E não te esqueças de estendê-los,
Quando a noite vier dar no mar.
Mergulha em mim,
Aceita o meu sorriso!
É o que basta.
E beberei teu brilho tímido
Em goles de calma e caminho.
Adiante mais um pôr de sol.
********
Para que te cubras de perdão,
Para que tuas manhãs sejam de linho
E tuas noites recendam a leveza.
Que tenhas paz.
Entrego-te meus olhos,
Para que enxergues, em ti,
O homem que vejo.
Cuida bem dos meus luares
E não te esqueças de estendê-los,
Quando a noite vier dar no mar.
Mergulha em mim,
Aceita o meu sorriso!
É o que basta.
E beberei teu brilho tímido
Em goles de calma e caminho.
Adiante mais um pôr de sol.
********
segunda-feira, 11 de novembro de 2013
DESDE AQUELE DIA
Tanto sol e tanto vento,
E minhas mãos não sabiam o que fazer, onde se esconder.
Meus olhos farejavam teus poros, cada traço, cada pelo.
O momento parou ali, na tua boca.
Queria provar tua sina.
Tua nuca me chamando. Eu quase fui. Temi. Tremi. Devia ter ido.
Inútil essa coisa de se fingir que não se quer. Deixar passar o momento.
O tempo se esvai - aquela ampulheta sem escrúpulos - e nos leva a chance.
Ah! Eu te queria desde aquele dia!
Quase me atrapalhei quando teus braços me envolveram tímidos,
avançaram cautelosos e me devolveram castos.
Queria profanar teu corpo todo, tua retina, teus cromossomas.
Bebi avidamente tua voz e te esperei nas paredes, nas gotas d’água, nos lençóis.
Viajei contigo para muito além das estradas.
Vivi teus minutos sorvendo os estranhos movimentos dos teus lábios, os desvios dos teus olhos.
Esses que me procuravam e fingiam não me encontrar.
Eu te queria desde aquele dia!
Tantas palavras e nenhuma palavra.
Não consegui te decifrar.
Meu corpo nu aprendendo a aguardar e a febre crescendo na sala de espera.
Mesa posta, eu já descomposta, sem resposta.
Suada de te antecipar os passos.
Não havia pegadas e a chama das velas ainda ardia.
Ah! Eu te queria! Sim, te queria desde aquele dia.
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terça-feira, 5 de novembro de 2013
POEMA
POEMA
Lilian Maial
É isso o que somos um para o outro:
impossíveis, imprevisíveis, arrebatadores,
surpreendentes, instigantes, misteriosos,
irritantes, descartáveis e fundamentais.
Nem o (a)mar consegue nos conter.
Somos dicotomia elementar.
Coisa básica, coisa quântica, exemplo do inexplicável.
Quero a palavra que nos nomeia.
Simples assim: quero.
Sei o que sentes, mas não direi,
a palavra vem adquirindo vontade própria,
evito contato mais íntimo com ela.
Sou pagã, herege, profana,
absolutamente ateia,
mas sei mais de deus que ele de si ou dos homens.
Sei mais de amor, que os amantes shakespeareanos.
Sei mais de ti, que tua mãe, teu pai e teu ego.
E nada sei.
Não te quero confortável.
Quero beber tua agonia, tua dor e tua poesia.
Quero teu suor, tua espera e teu sangue.
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sábado, 24 de agosto de 2013
quinta-feira, 22 de agosto de 2013
LÍNGUA PORTUGUESA
LÍNGUA PORTUGUESA
®Lílian Maial
Tudo começou quando lhe disseram
que a língua não cabia dentro da boca, que era uma língua de trapo. Aquilo
virou obsessão, entre o fascínio e a vergonha. Tinha uma língua enorme, que
batia no queixo. Fazia caretas inimagináveis, fazia música com a língua,
provocava. Nas festinhas, exultava se ganhasse uma língua de sogra. Ainda
criança, gostava de brincar de falar a língua do “pê”.
Um dia começou a lamber e não
parou mais. Lambia os beiços, lambia a borda do prato, a borda dos copos,
lambia os lábios. Era mestre em lamber. E adorava língua de gato! Desde que
começou a lamber a pele, nunca mais teve sossego. Havia filas de tudo que é
tipo de gente. Todos queriam ver a língua, sentir a língua, beijá-la. Depois
que casou, passava horas lambendo a cria.
Resolveu estudar línguas. Fez
inglês, francês, espanhol, alemão e italiano. Era muito simples, dominava a
língua como ninguém. Ocupava alto posto na diplomacia, graças à lábia e às
línguas.
Tudo ia bem, até que passou a não
falar a mesma língua. As más línguas mandaram que dobrasse a língua, mas não era
de seu feitio engolir a língua. Tinha tudo sempre na ponta da língua. Deu com a
língua nos dentes. Morreu com a língua de fora.
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domingo, 11 de agosto de 2013
sábado, 10 de agosto de 2013
COMO EU
COMO EU
lílian maial
Meus sonhos mudos
não têm mais vozes
silentes goles
de devaneios
carícias plenas
gotas serenas
correm na pele
pelos meus seios.
Minha nudez?
Ela é só minha
se não me enxergas
pelas entranhas.
Dona das manhas
onça pintada
solta no mato
boi de piranha.
Não queiras mágoa
a mim de estátua
que na verdade
eu sou bem sonsa.
Eu não sou santa
e nem sou tola
ou tua rola
apenas onça.
Cresci sabida,
sem lei, nem guia
nasci vadia
pra aproveitar.
Sou hedonista
sou alpinista
herdeira artista
do teu cantar.
Já fui cometa
arrastei lágrima
na cauda inválida
já fui estrela.
De parco brilho
saí dos trilhos
fui vaga-lume
de outro planeta.
Hoje sou eu
que não sou nada
menos que nada
eu sou talvez.
E em minha saga
apaixonada
sou verme e praga
insensatez.
Sou céu e terra
sou mar e areia
aranha e teia
cobra coral.
Se queres muito
que eu seja tua
me prova crua
sem mel, nem sal.
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quarta-feira, 26 de setembro de 2012
MADRUGADA
MADRUGADA
lílian maial
Do tudo que me vem em agonia,
resta um traço de lápis preto borrado
e um cheiro ácido no hálito de solidão.
No breu da sede de carne,
a mesma boca seca a soletrar desculpas.
Por trás do sorriso não rasgado,
o mesmo gosto de tapete e corrimão.
De nada adianta o consolo do abraço
e o remendo das palavras vãs,
se ambos sabemos
que somos sementes da insônia.
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terça-feira, 18 de setembro de 2012
SONETO DO AMOR IMENSURÁVEL
®Lílian Maial
O meu amor é tanto e sem medida!
...É fé, é sentimento, é dor e é riso.
É pérola na ostra, um sol narciso,
Brilhante e ensimesmado suicida.
O teu amor não quis me dar guarida.
Esquece que a paixão não manda aviso,
Que os olhos não têm pressa e nem juízo,
E o coração não sabe a despedida.
As linhas que se perdem no meu rosto,
São marcas de alegria e de desgosto,
Que o tempo se encarrega de fincar.
Não há régua no mundo que, hoje, meça,
Nem bom conselho a esta altura impeça,
Que o meu amor não pare de te amar.
......................
segunda-feira, 30 de abril de 2012
PANIS et CIRCENSES
Há dias de apascentar os olhos no levedar das horas,
pelo circo das janelas de molduras reluzentes,disfarce oportuno, distração de tontos.
As vértebras exibindo sinuosas torturas nas bordas do silêncio,
ensurdecido pela blasfêmia do escárnio obsceno das telas brilhantes.
Não se olvide, porém, a índole do porvir!
A mão que acusa o estro subserviente
é a que se apega à lâmina da sedição.
A paixão estuando o músculo,
num crepúsculo de dignidade.
No tempo em que o homem ciceroneia o homem,
mitigados ditames de solidão,
a verdade salta diante do torso corcoveado
de intenções servis.
Há muitos perigos no vazio doloroso da fome
entalhada a fogo.
Nenhum homem há de subjugar um irmão!
Nenhuma horda a comandar o verbo!
Na aceria latente da palavra,
a rima do pão é a mão estendida
e sua métrica as vozes plurais a saciar a fome.
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quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
MATAMORFOSE
MATAMORFOSE
lílian maial
vento varre o chão
folhas no ar a dançar
borboletas súbitas
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